Boas vindas à todos aqueles que, pelos mais diversos meios, chegaram à este blog. ANACRÔNICO: AVESSO AOS COSTUMES ATUAIS (in: Aurélio). A partir deste significado e do trocadilho com o meu nome, Anacrônica será meu megafone, onde soltarei meus gritos, “cronicarei” sobre flores (e espinhos) e mais alguma coisa que me der na telha. Se for de seu interesse, bom proveito. Se não for, tudo bem, eu te perdoo.
domingo, 24 de abril de 2011
Homenagem aos doidinhos
Já repararam que, principalmente, no centro de São Paulo (próximo ao Teatro Municipal e na praça da Sé, por exemplo), sempre tem algum anônimo, tentando promover seu trabalho? Cantores e seus teclados, estátuas vivas, comediantes, só para citar alguns dos muitos artistas.
Já notaram também o aglomerado de pessoas que assistem aos shows e que, dentre esses espectadores, sempre tem, pelo menos, um doidinho?
O doidinho é aquele indivíduo que, na maioria das vezes, é morador de rua, fala sozinho e parecer estar sempre feliz.
Os doidinhos são um show à parte, isso quando não atraem mais atenção que o próprio artista que está se apresentando, sendo tanto quanto ou mais performáticos que estes.
Eles riem, cantam, tocam instrumentos imaginários, interagem com tudo e todos e dançam. Ah, como eles gostam de dançar! E parecem tão felizes...
Fato é que eles tem muito mais contato com arte e cultura do que muitos "não-doidinhos".
Por outro lado, mesmo desconhecendo os motivos que os levaram e os mantêm nas ruas, podemos imaginar que não é fácil ter que ficar acordado durante a noite para não correr o risco de ser incendiado. Ou perceber que te evitam por causa do seu mau cheiro e da sua má aparência.
Tenho dúvidas... Não sei se os doidinhos são eles ou se somos nós...
...
Em algum ponto do centro de São Paulo, um artista "emergente" se prepara para o show.
Enquanto isso, um doidinho pergunta para o outro:
- Quem será o doido que vai se apresentar aqui hoje?
...
Deixo aqui registrada a minha admiração por essas pessoas que, apesar dos pesares, ainda conseguem sorrir e transbordar alegria.
terça-feira, 19 de abril de 2011
Lidando com o (des)apego
Dias atrás, resolvi dar uma organizada na minha estante de livros.
Esta iniciativa ocorreu, confesso, muito mais pela esperança de conseguir espaço para as novas aquisições, do que pela vontade de doar os mais antigos.
Não que eu não queira incentivar a leitura; pelo contrário, sendo eu, uma pessoa formada em Letras e viciada em leitura, quero mais é que as pessoas leiam, e leiam muito e sempre.
Meu problema, acredito eu, é o excesso de apego.
Durante a empreitada, encontrei vários livros didáticos: uns, que "esquecemos" de devolver para a escola no final do ano letivo e que passaram, então, a fazer parte da nossa biblioteca particular. Outros, guardados pelo simples prazer do saudosismo ou também porque podem vir a ser úteis algum dia (será mesmo?).
Lembram-se daquela enciclopédia, Pesquisando na Escola, que era vendida de porta em porta, composta por quatro livros: um azul, um verde, um amarelo e um vermelho e que vinha com um suplemento, contendo as fotos de todos os presidentes do Brasil, sendo, na época, José Sarney o nosso então presidente? Pois é, este foi só um exemplo.
A despedida mais dolorosa foi do livro de Língua Portuguesa que usei na 4ª série, há nada mais, nada menos do que 20 anos: Festa das Palavras.
Que delícia folheá-lo e lembrar que, naquela época, minha única preocupação era ter boas notas e passar de ano!
Vocês podem dizer que eu tenho problema, podem se perguntar por que eu fico guardando coisa velha e eu lhes digo: excesso de apego!
Ainda tenho alguns outros artigos para lidar e sei que também vai ser dureza! Dentre eles, apostilas de cursinho pré-vestibular e aqueles cadernos de 20 matérias, com a foto do Bob Marley na capa, que usei durante o Colegial, ou melhor, Ensino Médio, e que contém, além de Português, Matemática, Geografia etc., os registros de um coração adolescente, apaixonado pela primeira vez.
Cartões de Natal, cartas, mensagens, lembrancinhas de casamento e aniversário de criança, fitas cassete (inclusive a do Metalica, da minha fase roqueira!).
Etc.
Entendam, para mim, não parece normal alguém, simplesmente, se desfazer de partes de sua própria história.
Se sou apegada às coisas que representam quem eu fui e quem eu sou, se eu reluto em apagar essa memória, é porque ela tem algum valor em algum ponto dentro da história do mundo.
Se estou no mundo, logo, sou o mundo e, por isso, não posso me omitir e, menos ainda, me deixar omitir.
Desapego faz bem, mas com moderação.
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