quarta-feira, 24 de março de 2010

Consumo e status na escola



Meses atrás, observando nossos alunos na hora do recreio, meu amigo Roberto disse: "quem tem salgadinho é rei!". Esse comentário me levou à um flashback.

No início da década de 1990, na periférica escola onde eu estudava, o aluno que se atrevia a comer a merenda da escola, se tornava motivo de chacota para os demais, durante todo o período letivo. Comer a macarronada ou o risoto (vulgo, "arroz de cachorro"), fornecidos pela escola, era o cúmulo da pobreza.

Naquela época, quem comprava balas Ice Kiss (com mensagem de amor) tinha mais amigos. Depois, teve a época do salgadinho Fandangos, do chiclete Big Big, do pirulito de coração, das balas de maçã verde e 7 Belo etc.

Já no final dessa mesma década, um dos símbolos de status do intervalo escolar (notem que, já não se chama mais "recreio") era a bolacha recheada, Negresco e Trakinas, preferencialmente. Não nos esqueçamos também do cheeseburguer com Coca Cola.

Percorrendo essa linha do tempo e chegando aos dias atuais, percebo que mudam-se os produtos, mas não se mudam os (pré) conceitos.

Produtos industrializados, com embalagens brilhantes, chamativas e barulhentas são tidos como melhores que aqueles, preparados em casa ou naturais.

Não vou negar que consumia e, até hoje, consumo esses tais produtos. Mas, com moderação.

Hoje, um dos meus maiores orgulhos é ter chegado ao cúmulo da pobreza várias vezes. Cresci aprendendo o que realmente significa boa alimentação.

E quanto àqueles amigos que chupavam as minhas balas Ice Kiss, nunca mais os vi.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Conceito de poder


Estamos, hoje, vivendo o que podemos chamar de "era Big Brother", já que somos todos vigiados praticamente o tempo inteiro. Digo isto, baseada na ideia contida na obra "1984", de George Orwell, passando pelo filme "O show de Truman", de Peter Weir e me utilizando, somente, do nome do show de horror Global (se é que vocês me entendem).


Seja por câmeras, pela internet, pelos vizinhos ou pelo celular, o fato é que tem sempre alguém violando, ou pelo menos, tentando violar a privacidade alheia, para o bem ou para o mal.


E por que será que as pessoas temos tanto fascínio pela vida dos outros? Acredito que é pela sensação de poder, de dominação, de controle sobre o outro.


Vejamos o exemplo do telefone móvel. Qual é a primeira pergunta que, normalmente, fazemos e/ou ouvimos ao celular? Fácil! "Onde cê tá?" Já repararam que a resposta, raramente é verdadeira? Qual será a causa dessa omissão ou mentira?


Simples! Ao dizermos que estamos na Av. Nove Julho, quando ainda, na verdade, não chegamos nem à Marginal Pinheiros, mais do que, simplesmente, tentando amenizar a raiva de quem está à nossa espera, estamos nos rebelando (mesmo que, de maneira inconsciente) contra a tentativa de sermos dominados, controlados pelo outro.


Conclusão: essa história de ter poder sobre o outro, não passa de ilusão. Quem "domina", acha que tem o poder, mas sabe que não o tem. E o "dominado" é quem, de fato, tem o controle da situação, e muitas vezes, nem o sabe.


Resumo: na "era Big Brother", o celular é a pior escolha para quem quer controlar e, talvez, a melhor para quem é, supostamente, controlado. Repense seus conceitos.