domingo, 15 de novembro de 2015

Raio cai pela segunda vez no mesmo local e atinge moça nublada


Saindo do trabalho, percebo aumentarem as gotas sobre a poça d'água.

A motorista da van dá a partida e durante o rápido trajeto, a chuva aumenta de intensidade.

Chegando ao local usual de desembarque, pergunto à motorista se não seria possível abrir uma exceção e nos deixar mais próximos à entrada da estação. "Não."

Abro meu magro e singelo guarda chuva e após alguns passos, já estou caminhando sobre minha poça d'água particular: meus sapatos. À essa altura, meu jeans também já parecia mais índigo.

Começo a xingar, claro, e a me perguntar: "por que não saí 10 minutos antes?", "custava essa motorista nos deixar ali na frente?"

O pior mesmo é, depois de tudo isso, entrar no trem e ver que lá, todo mundo está seco! Ironias da vida...

As portas do trem se fecham. O moço careca de barba farta saca o violão de dentro da capa protetora e a moça bonita de coturno tira sua surpreendente voz de dentro do peito.

Ele toca a linguagem universal dos instrumentos musicais; ela canta de um jeito forte e imponente, num idioma que não reconheço. Apesar da dificuldade com a língua, essa intervenção desanuviou minha mente e meu coração e tornou aquele momento especial para todos os que estavam ali.

O moço de barba e a moça de coturno apresentaram duas músicas (para mim, inéditas), agradeceram, se despediram e foram embora. Assim mesmo, inesperadamente e de graça!

Nem tive tempo (ou coragem) de agradecer-lhes o presente.

Mas fica aqui o meu muito obrigada à motorista que me fez tomar chuva e, com isso, pegar exatamente aquele trem.

Corpo e alma lavados!


Obs.: Embora retrate um acontecimento novo, este texto retoma a mesma ideia do texto: "Conspirações e inspirações", também publicado aqui no blog. Confira, compare, dê sua opinião!